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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Existindo pelo Outro


Imagine se um dia você acorda e percebe que algo muito estranho acontece com você, as pessoas simplesmente não conseguem te ver. Você a princípio acha graça, afinal é uma oportunidade de dizer e fazer coisas que você sempre quis mas nunca teve coragem. O tempo passa e a sensação de graça vai aos poucos sendo substituída pelo desespero. Amigos, parentes, ninguém te vê, as pessoas passam por você na rua, esbarram em você mas simplesmente ignoram sua presença, você então toma ciência de um fato inesperado e assustador, você não existe.
Essa situação hipotética traz em si uma questão fundamental: O que nos faz existir? O que define a minha existência no mundo? No século XVII Descartes atrela a existência à razão e à capacidade de pensar: com o seu famoso argumento do cogito “Credo, Ergo Sum” (Penso, logo Existo), Descartes defende que o sujeito existia como coisa pensante, não precisando necessariamente que houvesse o reconhecimento de um terceiro para que essa Res Cogitam existisse.
Contudo como no exemplo citado acima, o simples fato de pensarmos, sermos seres dotados de razão não nos faz existir, pelo menos não de forma plena. Somos seres sociais e a nossa existência plena só se dá quando somos reconhecidos pelo outro. Hegel filósofo alemão do século XIX defendeu essa hipótese, que em minha opinião é a mais acertada. Como no exemplo acima o indivíduo passou a não existir pra mais ninguém a não ser para ele mesmo, já que não era visto ou reconhecido pelo próximo, estava assim condenado ao esquecimento.

Nossa sociedade egoísta e individualista deve se lembrar disso: não podemos existir apenas pra nós mesmos, senão jamais existiremos de forma plena. Nós seres humanos nascemos para nos socializar-mos e só assim a nossa existência será reconhecida. Existir é essa relação dialética onde sou ao mesmo tempo sujeito e objeto, eu reconheço que exista um outro para que este outro ao ser reconhecido por mim também me reconheça, e isso reflete em todas as áreas de nossas vidas: no trabalho, nos afetos, enfim é necessário termos em mente que só existimos de verdade quando existimos para alguém além de nós mesmos.

Um comentário:

  1. Querido Arcanjo!

    O desconhecer-se é algo distorcivo da imagem. Do momento que vc não se conhece como Ser, os outros não te reconheceram. O sujeito não poderá separar-se do objeto... pq são correlacionados. Às vezes o que parece não é!
    Texto expetacular.... e como tem pessoas sem imagem!
    Como sempre venho tomar um pouco de licor deste cálice de sabedoria.

    Bjsss mil

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