Então de repente, não mais que de repente (parafraseando o poeta) você percebe o que teimava em não querer enxergar, você não representa mais nada. O único laço que ainda lhe ligava aquelas lembranças que até ontem eram doces, não existem mais. Não representar mais nada talvez não seja o termo apropriado, você pensa, pois analisando tudo talvez você nunca tenha representado nada. E isso te deixa em um misto de confusão, raiva de si próprio, do outro, do mundo, sentimento de frustração, cansaço, desesperança e dúvida.
Procura uma figura adequada pra se definir, pense vamos... Laços lembram cordas, que lembram fios, que lembra marionetes. Isso uma marionete, marionete te define bem. Sem vontade própria, manipulado, seguindo a risca as vontades do seu manipulador. Você é, ou melhor, foi, uma marionete.
Digo foi, pois você percebe que os fios foram cortados, e se pergunta: “o que um manipulador de bonecos faz com uma marionete sem fios?” Você mesmo responde: “joga fora.”
Outra descoberta terrível... após cansar de brincar com você te jogaram fora, por isso cortou o fio, então você é um lixo. Todas as evidências apontam pra essa conclusão aterradora, um Ergo tão claro, que parece sair diretamente de Aristóteles. Todos os caminhos apontam pra essa direção, no entanto não é assim que você se sente após pensar bem.
E porque deveria? Foi rejeitado e isso é muito ruim, quis sozinho e agora percebe claramente isso, e como você não é hipócrita reconhece pra si mesmo que é ruim demais se sentir assim, contudo você percebe que está mais forte.
Que fazer agora? A única coisa possível, seguir a vida, levantar-se e passar da condição de marionete para a de ser humano. Pra você não existirá grilo falante, nem fada que lhe indique o caminho a seguir. Tudo o que você terá daqui pra frente, você pensa, serão as lições aprendidas (ou não) com tudo isso. Terá que lutar contra a vontade de se tornar o próximo manipulador de marionetes por um lado, e a tendência a se colocar em outros fios, na mão de novos manipuladores..