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terça-feira, 29 de março de 2011

Fios Rompidos


Então de repente, não mais que de repente (parafraseando o poeta) você percebe o que teimava em não querer enxergar, você não representa mais nada. O único laço que ainda lhe ligava aquelas lembranças que até ontem eram doces, não existem mais. Não representar mais nada talvez não seja o termo apropriado, você pensa, pois analisando tudo talvez você nunca tenha representado nada. E isso te deixa em um misto de confusão, raiva de si próprio, do outro, do mundo, sentimento de frustração, cansaço, desesperança e dúvida.
Procura uma figura adequada pra se definir, pense vamos... Laços lembram cordas, que lembram fios, que lembra marionetes. Isso uma marionete, marionete te define bem. Sem vontade própria, manipulado, seguindo a risca as vontades do seu manipulador. Você é, ou melhor, foi, uma marionete.
Digo foi, pois você percebe que os fios foram cortados, e se pergunta: “o que um manipulador de bonecos faz com uma marionete sem fios?” Você mesmo responde: “joga fora.”
Outra descoberta terrível... após cansar de brincar com você te jogaram fora, por isso cortou o fio, então você é um lixo. Todas as evidências apontam pra essa conclusão aterradora, um Ergo tão claro, que parece sair diretamente de Aristóteles. Todos os caminhos apontam pra essa direção, no entanto não é assim que você se sente após pensar bem.
E porque deveria? Foi rejeitado e isso é muito ruim, quis sozinho e agora percebe claramente isso, e como você não é hipócrita reconhece pra si mesmo que é ruim demais se sentir assim, contudo você percebe que está mais forte.
Que fazer agora? A única coisa possível, seguir a vida, levantar-se e passar da condição de marionete para a de ser humano. Pra você não existirá grilo falante, nem fada que lhe indique o caminho a seguir. Tudo o que você terá daqui pra frente, você pensa, serão as lições aprendidas (ou não) com tudo isso. Terá que lutar contra a vontade de se tornar o próximo manipulador de marionetes por um lado, e a tendência a se colocar em outros fios, na mão de novos manipuladores..

terça-feira, 22 de março de 2011

A busca pela Glória


Conta-se, segundo a mitologia grega, que Aquiles em um dado momento teve que fazer uma escolha que decidiria o seu destino. Ele poderia ter uma vida longa e feliz e após sua morte seu nome seria esquecido, ou ele teria uma vida curta e cheia de glórias e seu nome ficaria eternizado pela posteridade. Ao receber essa proposta dos deuses Aquiles não teve dúvidas, escolheu a glória e a imortalidade, algum tempo depois foi lutar na Guerra de Tróia, sendo o personagem mais importante da guerra, conseguiu muitas vitórias, contudo sua busca pela glória o levou à morte e a mesma guerra que o imortalizou, paradoxalmente o matou.
A glória, ou a busca dela, tem um preço, muitas das vezes alto demais, no entanto muitos desejam pagar esse preço. Não medem esforços pra alcançar seus preciosos 15 minutos de fama, e os alcançando fazem qualquer coisa pra se manter no topo. Assumem os papéis mais deprimentes possíveis, jogam com outras pessoas, usam outros seres humanos como se fossem objetos, se colocam na posição de objetos tudo por um ridículo momento de fama.
O famigerado BBB é a mais pura expressão desse fetichismo produzido pelos holofotes. O circo dos horrores que esse programa traz a cada edição não tem limites. Todas as noites uma infinidade de coisas bizarras é esfregada em nossa cara e invade nossos lares. O que explica a audiência absurda que um programa imbecil como esse gera?
É altamente alienante, a impressão de um mundo perfeito gerado pela casa, altas festas, bebida, dança, enfim um mundo de prazeres ao estilo Ilha da Fantasia. Contudo a vida real não é assim, e pra estar nessa “Ilha da Fantasia” vale qualquer coisa.
Pra quem está lá dentro, com raras exceções, não existem limites para alcançar seus objetivos, as intrigas rolam soltas, conceitos e valores como lealdade, amizade, fidelidade tudo isso é posto em xeque e mandado às favas, relacionamentos relâmpago e coisas afins são apenas a ponta do iceberg desse zoológico humano.
O BBB é apenas um exemplo, talvez o mais patente, do grau de decadência alcançado por essa sociedade em que vivemos que busca o brilho da glória como insetos buscam a luz da lâmpada. No entanto como no caso de Aquiles o preço da glória pode ser a morte, talvez não a morte física, e sim a morte de valores dos mais básicos que norteiam nossa sociedade e sem os quais com certeza estaremos relegados ao Caos primordial.

segunda-feira, 21 de março de 2011

A Fênix


De todos os seres míticos que conheço um dos que mais me impressionam é a Fênix. Esse pássaro místico ao sentir estar próxima a hora de sua morte se consome no meio do fogo até restarem somente cinzas. Qualquer um que olhar depois disso verá um quadro de desolação, desesperança e morte, contudo aqueles que continuarem olhando verão uma cena inusitada: milagrosamente uma nova Fênix renasce das próprias cinzas, completamente renovada, restaurada e pronta pra encarar novos desafios sabendo que todas as vezes que parecer ser o fim ela renascerá.
Tal reflexão nasceu de uma conversa com uma amiga de uma inteligência ímpar e de minhas experiências recentes. Eu, assim como milhões de pessoas todos os dias, fui confrontado com situações que me abalaram e me desestabilizaram a princípio e me deixaram diante de duas alternativas: entregar-me e desistir, ou assim como no exemplo da Fênix renascer das próprias cinzas.
Reconheço ser mais cômodo simplesmente se prostrar e começar a entrar em um processo que inclui depressão, auto-piedade, e outros tantos sentimentos destrutivos. Simplesmente aceitar o que aconteceu de forma fatalista e colocar a culpa no outro, em Deus, no mundo, na própria sorte ou em qualquer outra coisa, desde que a responsabilidade pelos rumos que nossas vidas tomarão depois da queda saiam das nossas costas.
Muitos na primeira dificuldade sentem-se o próprio Édipo, tentando fugir de um destino inexorável que foi escrito pelos deuses a milênios, escrito em páginas de chumbo com caneta de diamante. É preciso coragem para lutar sempre, não importando o quadro que se apresente, coragem essa que muitas vezes nos falta já que tudo que sabemos fazer é olhar pras dificuldades e como cães lambemos nossas próprias feridas.
Desafios são propostos a cada dia, novas decepções nos esperam, esperanças inúmeras serão frustradas ao longo de nosso caminho, entraremos no deserto e nos sentiremos sozinhos e desamparados muitas vezes, mas nessas horas como agir? A sorte está lançada e cabe a nós decidir, morrer no deserto sentindo pena de nós mesmos ou como a Fênix renascer das cinza