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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A Terra das Aparências

Os índios Carajás contam a lenda de Tainá-Can (a Estrela Vésper), Imaeró e Denakê. Imaeró certo dia estava à beira do rio quando olhando o céu viu brilhar intensamente a luz de Tainá-Can, admirou-se com sua beleza e se perdeu de amores por Tainá-Can pedindo-lhe para que ele descesse do céu para casar-se com ela. Imaeró era uma Carajá muito bonita e falou com tanta paixão que Tainá-Can desce do céu em uma noite e acorda Imaeró dizendo que veio para casar com ela, mas para a surpresa de Imaeró tão brilhante estrela ao tomar a forma humana era um velho já enrugado.
Imaeró ao ver aquele velho recusa-se a casar com ele, pois esperava um homem jovem e não um ancião. Sua irmã Denakê compadecida do pobre velho resolve se casar com ele, Tainá-Can então diz que iria trabalhar para alimentar Denakê, pois ela possuía bom coração e no mesmo instante foi para o mato fazer o roçado para plantar, ordenando a Denakê que não o seguisse e ficasse em casa preparando a comida. Como demorava muito Denakê resolve segui-lo e para sua surpresa ao invés de um ancião encarquilhado pela idade encontra um guerreiro Carajá jovem e forte, feliz e surpresa o leva para casa para mostrar a sua família, Imaeró ao ver tão belo jovem o reclama pra si, dizendo que tinha sido ela e não sua irmã Denakê que o tinha invocado no que Tainá-Can responde: “Você não foi capaz de enxergar além do que seus olhos podiam ver, seu amor não era por mim, e sim pelo meu brilho, contudo sua irmã soube me amar mesmo parecendo velho, Denakê será minha esposa. Então a bela índia Imaeró se transformou no Urutau, pássaro que até hoje canta tristemente ao ver Tainá-Can no céu. Quanto a Tainá-Can e Denakê tiveram muitos filhos, ensinaram os Carajás a plantarem a mandioca, o milho e após muitos anos de uma vida feliz ambos subiram ao céu, e até hoje é possível ver Tainá-Can brilhando e uma pequena estrela ao seu lado, a bondosa Denakê.


Essa lenda Carajá traz em si uma lição muito importante, a necessidade de conseguirmos ver através das aparências. Muitas das escolhas erradas que fazemos em nossas vidas fazemos unicamente por não saber identificar a diferença entre essência e aparência. A Natureza tão sábia mãe nos cobriu de exemplos que não sabemos tomar para nós, muitos dos predadores mais perigosos se apresentam de forma muito bela, justamente para atrair a sua presa, como as plantas carnívoras com suas belas cores que tem como único objetivo atrair insetos incautos.
Nem tudo que parece realmente bom aos nossos olhos é o melhor para nós. Salomão, o mais sábio rei que o povo de Israel já teve certa vez disse: "Há caminhos que ao homem parecem bons, mas o seu final é a morte...” Se deixar guiar apenas pela aparência é a maior prova de loucura que uma pessoa pode dar, contudo é o que vivemos todos os dias.
Somos fruto de uma sociedade enferma, louca e extremamente hipócrita, preocupada com uma auto-imagem, mas nem um pouco preocupada com a própria essência. As pessoas não valem mais pelo que são e sim pelo que aparentam, pois como dizem: imagem é tudo. Na Terra das Aparências tudo que é essencial é desprezível e descartável. Relacionamentos de interesse e conveniência, a busca insana pela “forma perfeita” que a mídia vende e que nos leva a uma corrida louca em direção a autodestruição, necessidades artificiais são criadas a cada instante. Fetichismo, hedonismo, individualismo, tudo isso é apenas um reflexo embaçado de uma sociedade que caminha a passos largos para o abismo. Uma sociedade podre, doente, decadente que preocupasse cada vez mais com o que aparenta ser e menos com o que realmente é.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Máscaras


Certa vez um homem chega ao consultório de um psicólogo e trava o seguinte diálogo com ele:
­“Doutor preciso de sua ajuda, há meses não consigo dormir direito, tenho pesadelos horríveis, ataques de pânico e choro constantes. Não vejo mais motivos pra viver, várias vezes tentei o suicídio, porém algo sempre dava errado e estou preso a essa vida vazia e sem sentido. Não vejo mais motivos pra minha existência, nada mais tem graça tudo que desejo é pôr um fim a esse sofrimento.”
O médico então lhe respondeu:
“Realmente o seu caso é grave, contudo acho que tenho a solução pro seu problema sem precisar recorrer a medicamentos pesados, trata-se da terapia do riso. O famoso palhaço Pierrot está na cidade ele é o homem mais alegre do mundo, seu humor é contagiante, se nem ele conseguir resolver seu problema nenhum remédio ou terapia trará resultados.”
Ao ouvir essas palavras o misterioso paciente entra em uma crise convulsiva de choro e com a voz embargada com muita dificuldade balbucia algumas palavras entrecortadas por soluços: “Mas doutor o palhaço Pierrot sou eu...”

Ouvi essa história e fique pensando em seu significado, nas vezes que vivemos uma vida de mentiras e nos escondemos atrás de máscaras que convenientemente fazemos para nós. Os motivos pelos quais mascaramos quem somos podem ser os mais diversos: necessidade de aceitação em um determinado grupo, medo de rejeição, decepções, enfim muitas coisas podem nos fazer querer parecer o que não somos.
Mas uma pergunta deve ser feita por todos que resolveram seguir esse caminho: Será que vale a pena realmente pagar o preço de viver uma mentira? Dizem que uma mentira repetida várias vezes acaba se tornando verdade, tenho minhas dúvidas com relação a isso. Por mais dura que a realidade possa se apresentar encara-la de frente é sempre melhor por que uma hora com certeza as máscaras caem e aí o estrago é muito maior.
Outro ponto tem de ser posto em questão, as dificuldades psicológicas em se defender essa mentira, a anulação constante da própria personalidade, o peso de ser o que o outro espera e não o que você realmente é. Muitas pessoas vão viver infelizes pelo resto de suas vidas por que não tiveram a coragem de viver as próprias vidas e passaram anos vivendo uma fábula, e ao cair do pano e no apagar das luzes percebem q foram apenas coadjuvantes por não serem eles mesmos. A vida pode sim ser um grande teatro, mas cabe a nós agirmos para que não se torne uma tragicomédia com uma piada sem graça no final.